segunda-feira, 31 de outubro de 2011

PICA... EM LATIM

Pega-rabuda 

PICAem latim, é o nome desta ave de plumagem preta e branca, da família Corvidae, dos corvos, muito comum na Europa, no norte da África e na América do Norte.

Em latim é substantivo feminino da primeira declinação: Pica, ae.

Não confundam, pois, com a palavra tabú portuguesa para pênis.

Paulo Barbosa

UM POUCO DE PROSA...


A PROSA é definida como a exposição continuada e livre de qualquer métrica, ou também como o discurso não afetado pelo ritmo:

"Prosa est producta oratio et a lege metro soluta sive oratio in rectum producendo".

É fato que tanto entre os gregos quanto entre os latinos a prosa foi colocada um tanto de lado, dando-se mais atenção à poesia, pois segundo estudiosos, no princípio tudo era escrito em verso. A atenção, o cuidado para a prosa, só mais tarde apareceu, e conta-se que, entre os gregos, foi Ferécides de Siros, filósofo helênico que, segundo Aristóteles, misturava teologia e mitologia, o primeiro que escreveu em prosa. Já entre os romanos, foi Ápio o Cego, ao compor em prosa um discurso contra Pirro. Após estes, muitos esforçaram-se por sobressair através da eloquência de sua prosa.

Paulo Barbosa

O POLIPTOTON

O POLIPTOTON é uma figura que consiste em empregar uma mesma palavra em diferentes casos gramaticais, como, por exemplo, o de Pérsio:

"Ex nihilo, nihilum, ad nihilum nil posse reverti"

"Do nada, nada nasce; nada pode retornar ao nada" (3,84)

Paulo Barbosa

MOTACISMO

O MOTACISMO é figurado entre os barbarismos pelos autores antigos e consiste  num M seguido de vogal, como por exemplo:

BONUM AURUM

JUSTUM AMICUM

Este vício é evitado de duas maneira: interrompendo ou suprimindo a pronúncia do M.

Paulo Barbosa

NOMES DA TERCEIRA DE TEMA EM GUTURAL


Até à época do Imperador Augusto muitos nomes latinos da terceira declinação eram grafados no nominativo singular com CS e GS. O C e G são as consoantes velares que terminam o tema destes nomes, enquanto o S é a desinência geral do nominativo singular. Assim:

REGS = rei
DUCS = guia
ARCS = altura, eminência, topo
FALCS = foice
PODECS = o ânus, o traseiro
PACS = paz
FACS = facho, tocha
CRUCS = cruz
TRUCS = cruel, feroz, violento
REDUCS = que está de volta ou torna a trazer

Acontece que, nesta época, a augustana, os romanos fundiram estas duas letras numa única, o X, que na verdade é um sinal gráfico, chamado também LETRA DÚPLICE, por ser a união da gutural C ou G com a fricativa S.

X, portanto, nasceu no século de Augusto (63 a.C.-14 d.C.), e todas as palavras da terceira declinação grafadas no nominativo com as supracitadas consoantes, passaram a ser grafadas em X:

REX
DUX
ARX
FALX
PODEX
PAX
FAX
CRUX
TRUX
REDUX

O C ou G fundidos, entretanto, volta a aparecer no genitivo destes nomes: REGIS; DUCIS; ARCIS; FALCIS; PODICIS; PACIS; FACIS; CRUCIS; TRUCIS; REDUCIS.

Paulo Barbosa

VERBOS DE REGÊNCIA DIFERENTE

ESTUDAR,


FAVORECER,


PERSUADIR,


INSULTAR,


PREJUDICAR são verbos que, em português, são quase sempre transitivos diretos, ou seja, pedem depois de si objeto direto. 

Em latim, porém, estes mesmos verbos, e muitos outros, são transitivos indiretos, isto é, pedem depois de si objeto indireto, função esta exercida pelo caso dativo. Assim:

                        Obj. direto                                                                  Obj. indireto                                                                                     

ESTUDO A GRAMÁTICA             STUDEO            GRAMATICAE


FAVORECER MARIA                    FAVERE            MARIAE


PERSUADIR ALGUÉM                  PERSUADERE ALICUI


INSULTAR ALGUÉM                     MALEDICERE ALICUI   


PREJUDICAR ALGUÉM                NOCERE           ALICUI

Por isso, muita atenção deve-se ter ao fazer a retroversão de verbos do português para o latim, pois as regências são, muitas vezes, diferentes.   

Paulo Barbosa  

sábado, 29 de outubro de 2011

UM TANTO SOBRE ADJETIVOS LATINOS NA ORAÇÃO

DUPLA ACEPÇÃO pode ter alguns adjetivos latinos, como, por exemplo, os seguintes:

In MEDIO foro = na praça do meio ou no meio da praça


PRIMA nocte = na primeira noite ou ao anoitecer


EXTREMO anno = no último ano ou no fim do ano




SUPRE-SE a falta de adjetivo de duas maneiras:

1. Pelo genitivo: Castra INIMICORUM = o acampamento inimigo;

                          ANIMI voluptas = gozo espiritual.


2. Por um substantivo no mesmo caso: NATURA atque INGENIUM = disposição inata;

                                                            ARDOR et IMPETUS = ataque impetuoso;

                                                            CLAMOR et ASSENSUS = aplauso caloroso


Este modo de suplência de um adjetivo é chamado HENDÍADIS, ou seja, é a expressão mediante dois substantivos coordenados de um conceito que normalmente se representa subordinado um ao outro, quer dizer, mediante um substantivo determinado por um adjetivo. A palavra é grega e significa "um por meio de dois", hen = um + diá = por meio de, através de + dyoin, genitivo de duo = dois.


O COMPARATIVO quando está só, ou seja, sem o segundo termo da comparação, geralmente corresponde ao nosso adjetivo positivo precedido do advérbio 'bastante, demais'. Assim:

CELERIOR = BASTANTE ligeiro ou ligeiro DEMAIS

ALTIOR = BASTANTE alto ou alto DEMAIS

PULCHRIOR = BASTANTE bonito ou bonito DEMAIS


NÃO SE EMPREGA O SUPERLATIVO ao se falar de duas pessoas ou coisas:

Natu MAIOR = o mais velho (falando de dois)

Uter FORTIOR erat = qual dos dois era o mais forte?

Castra MAIORA = o acampamento maior (falando de dois)

Castra MINORA = o acampamento menor (falando de dois)


DUAS QUALIDADES comparadas entre si ambas vão para o comparativo:

Pestilentia MINACIOR fuit quam PERICULOSIOR = a epidemia foi mais ameaçadora do que perigosa


O SUPERLATIVO pode ser absoluto ou relativo:

Vir SAPIENTISSIMUS = um homem muito sábio

                                           o homem mais sábio
                                                         


Obs: O SUPERLATIVO é:

1. ABSOLUTO: é o grau do adjetivo que exprime a qualidade de um ser sem relacioná-la com outra, como no primeiro exemplo. É denominado também em latim superlativus elativus.

2. RELATIVO: é o grau do adjetivo que encarece para mais ou para menos a qualidade de um ser, estabelecendo comparação, como no segundo exemplo: "O homem mais sábio DA TURMA". Neste sempre há um termo complementar.


A CONJUNÇÃO 'VEL' anteposta a um superlativo designa a qualidade no mais alto grau:

VEL maximus = o maior possível

VEL optime = o melhor possível

VEL maxima auctoritas = a mais alta autoridade


O ADVÉRBIO 'QUAM', anteposto a um superlativo reforça-o:

QUAM proxime potest = o mais perto possível

QUAM maximas gratias agere = dar os maiores agradecimentos

QUAM maxime = o mais possível

Paulo Barbosa

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PRETÉRITO PERFEITO PRESENTE


PRETÉRITO PERFEITO PRESENTE - PERFECTUM PRAESENS ou LOGICUM - é aquele que indica uma ação passada, mas que perdura até o presente, ou seja, indica que um estado atual é o resultado de uma ação passada. Em latim, em alguns verbos nesta circunstância, ou seja, no perfeito, prevaleceu o sentido presente, como, por exemplo, os seguintes:

NOVI = CONHECI, mas que deve ser traduzido pelo presente: CONHEÇO, SEI

CONSUEVI = ACOSTUMEI, mas se traduz por: COSTUMO

MEMINI = LEMBREI, mas: LEMBRO-ME

ODI = ODIEI, porém: ODEIO

Paulo Barbosa



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

GENITIVO COMPLEMENTO DE VERBO

O GENITIVO pode ser usado com os seguintes verbos: esse, fieri, videri, putari (est, fit, videtur, putatur), para indicar a pessoa ou o objeto a que alguma coisa pertence. Assim, temos:

1. O genitivo possessivo: Hic liber est fratris mei = este livro é do meu irmão

2. O genitivo de conveniência, ou seja, que indica dever, múnus, distintivo, privilégio, virtude, qualidade, vício: Est boni consulis providere quid futurum sit = é dever do bom cônsul providenciar o futuro

Os verbos que significam 'recordar-se e esquecer-se' (memini, reminiscor, recordor; obliviscor) e os que significam 'recordar alguma coisa a alguém' (admoneo, commoneo, commonefacio), também são construídos com genitivo:

Vivorum memini = lembrei-me dos vivos

Flagitiorum suorum recordabitur = recordar-se-á de seus atos vergonhosos

Verus amicus amici nunquam obliviscitur = o verdadeiro amigo nunca se esquecerá do amigo

Oblitus sum mei = esqueci-me de mim

Veteris te amicitiae commonefacio = lembro-te da velha amizade


Os verbos judiciais, ou seja, os que significam 'acusar, condenar', pedem também o complemento de culpa no genitivo. Tais são: "accusare, insimulare, arguere, condemnare", assim como "postulare, reum facere (chamar a juízo, processar); coarguere, convincere (convencer da culpa)".

Accusare repetundarum = acusar de concussão, de roubo do dinheiro público

Accusare majestatis = acusar de lesa majestade

Insimulare Mariam avaritiae = acusar Maria de avareza

Paulo Barbosa


terça-feira, 25 de outubro de 2011

ORAÇÕES MARIANAS EM LATIM


AVE MARIA
AVE MARIA, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc, et in hora mortis nostrae. Amen.

SALVE REGINA
SALVE, Regina, mater misericordiae, vita, dulcedo, et spes nostra, salve. Ad te clamamus exsules filii Hevae. Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle.

Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Iesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exsilium ostende.

O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria. Amen.

V. Ora pro nobis, sancta Dei Genetrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

MEMORARE
MEMORARE, O piissima Virgo Maria, non esse auditum a saeculo, quemquam ad tua currentem praesidia, tua implorantem auxilia, tua petentem suffragia, esse derelictum. Ego tali animatus confidentia, ad te, Virgo Virginum, Mater, curro, ad te venio, coram te gemens peccator assisto. Noli, Mater Verbi, verba mea despicere; sed audi propitia et exaudi. Amen.


Paulo Barbosa

domingo, 16 de outubro de 2011

CONCORDÂNCIA DO AJETIVO COM NOME PRÓPRIO


No latim literário o adjetivo não podia estar diretamente unido a um nome próprio, como, por exemplo, Maria bonita. Era costume dos romanos unir ao nome da pessoa ou coisa a ser qualificada um substantivo comum, como HOMO, VIR, MULIER, URBS, etc. Assim, o exemplo acima, em latim, deve ser:

Maria mulier pulchra = Maria, mulher bonita.

Vejamos alguns outros exemplos:

In his P. Sextio Baculo fortissimo viro (César, B. Gal., 2,25,1) = entre estes, P. Sextílio Báculo, homem de extraordinária coragem

Aristoteles vir summo ingenio (Cícero, Tusc., 1,7) = Aristóteles, homem de extraordinário talento

Urbem pulcherrimam atque ornatissimam Corinthum sustulit (Cícero, Verr., 1, 55) = destruiu Corinto, cidade belíssima e ornadíssima

Paulo Barbosa

sábado, 15 de outubro de 2011

"EST MODUS IN REBUS"


A palavra latina MODUS seguida de genitivo de gerúndio presta-se para diversas expressões conhecidas ou consagradas já entre os eruditos, como por exemplo:

MODUS FACIENDI = MODO DE AGIR. "É o modus faciendi dela".

MODUS VIVENDI = MODO DE VIVER. "Cada ser vivo tem seu modus vivendi". - Adotar um modus vivendi é o mesmo que acordar entre as partes belicosas ou litigantes uma situação suportável.

MODUS CONCLUDENDI = MODO DE CONCLUIR.

A palavra MODUS, entretanto, em sua origem, tinha a acepção de MEDIDA, DIMENSÃO,  e é com essa significação que está na famosa passagem das Sátiras de Horácio:

EST MODUS IN REBUS = EXISTE MEDIDA NAS COISAS

tirada, por sua vez, de uma passagem de Plauto:

MODUS OMNIBUS IN REBUS = EM TODAS AS COISAS DEVE HAVER MEDIDA.

Ainda em outras construções a encontramos com a sua acepção original:

SINE MODO = SEM MEDIDA, ou seja, DEMASIADAMENTE

BONO MODO = EM BOA MEDIDA, isto é, COMEDIDAMENTE

MEO MODO = SEGUNDO A MINHA MEDIDA, a saber, SEGUNDO ME AGRADA

SUO MODO = DE ACORDO COM A SUA MEDIDA, quer dizer, A SEU GOSTO

Paulo Barbosa


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DESINÊNCIA GERAL DO NOMINATIVO SINGULAR

Os estudiosos do latim sabem que a desinência geral do nominativo singular é o -S, exceto nos nomes de tema em -a, -s, r-, -l, -n, como são rosa, mos, pater, consul e virgo, o primeiro da primeira declinação e os demais da terceira. Tirando estes, todos os demais fazem o nominativo em sibiliante: dominuS (2ª decl.), aviS (3ª decl.), manuS (4ª decl.) e dieS (5ª decl.), nominativo este denominado sigmático.

Pois bem, Bopp ensina ser este -S desinencial do nominativo singular o sufixo *-SA- do indo-europeu, que possuía o valor semântico de representar o ser que constituía o sujeito da proposição, isto é, o nominativo. Este sufixo é o antônimo do sufixo *-MA- , cuja função era indicar o ser que, no ato da enunciação, achava-se afastado e representava o produto da ação verbal, ou seja, o objeto direto. É desta forma *-MA- que proveio a desinência -M do acusativo singular.

Paulo Barbosa

SUPINO

O SUPINO latino é um forma arcaica, muito pouco encontrada em autores da época clássica. É um nome verbal que possui dois casos, o acusativo e o ablativo, sendo o primeiro usado com verbos que designam movimento, direção, inclinação, tendência, possuindo valor ativo, como em "venerunt postulatum auxilium = vieram para pedir ajuda", e o segundo usado com adjetivos, de sentido passivo, como "facilis dictu = fácil de dizer".

É formado com o sufixo -TU, que segundo estudiosos indo-europeístas é a sobrevivência do verbo indo-europeu *tu = encher, fazer, realizar. Desta forma, amatum = cheio de amor; deletum = realizar a destruição, e assim por diante.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ORAÇÕES CONDICIONAIS LATINAS

As orações condicionais latinas são conectadas à oração principal subordinante pelas seguintes conjunções:

SI = se

NISI, NI = se não, exceto se

SI NON = se não

SI AUTEM = porém se

SIN MINUS = se não, pelo contrário

DUM, MODO, DUMMODO = contanto que

A oração principal ou subordinante é denominada APÓDOSE, enquanto a oração condicional PRÓTASE.

A condição pode ser CERTA, HIPOTÉTICA ou IMPOSSÍVEL, e por esse motivo o modo verbal varia, ora estando no indicativo, ora no subjuntivo. Vejamos:

CONDIÇÃO CERTA

Quando a condição é considerada uma coisa certa no presente, no passado ou no futuro, derivando dela necessariamente a consequência - a apódose -, emprega-se, na oração condicional, o indicativo [presente, perfeito ou futuro] e na oração principal o indicativo, o imperativo ou o subjuntivo exortativo:

SI VIS PACEM, PARA BELLUM = SE QUERES A PAZ, PREPARA A GUERRA

SI PACE FRUI VOLUMUS, BELLUM GERENDUM EST = SE QUEREMOS GOZAR A PAZ, É PRECISO FAZER A GUERRA

NATURAM SI SEQUEMUR DUCEM, NUNQUAM ABERRAVIMUS = SE SEGUIRMOS A NATUREZA COMO GUIA, NUNCA ERRAREMOS

PEREAM NISI SOLLICITUS SUM = MORRA EU, SE NÃO FUI SOLÍCITO



CONDIÇÃO HIPOTÉTICA

Quando a condição é enunciada como uma pura hipótese, emprega-se o presente ou o perfeito do subjuntivo, tanto na oração condicional, como na principal:

HANC VIAM SI ASPERAM ESSE NEGEM, MENTIAR = MENTIRIA, SE DISSESSE QUE ESTE CAMINHO NÃO É DIFÍCIL



CONDIÇÃO IMPOSSÍVEL OU IRREAL

Esta pode ser dividida em impossível no presente e no passado. A condição impossível no presente exprime-se, como a sua consequência, pelo imperfeito do subjuntivo:

PLURA SCRIBEREM, SI POSSEM = MAIS ESCREVERIA, SE ME FOSSE POSSÍVEL


Já a condição impossível no passado exprime-se pelo mais-que-perfeito do subjuntivo. A consequência atual é expressa pelo imperfeito do subjuntivo, e a consequência passada pelo mais-que-perfeito do subjuntivo:

HAS INIMICITIAS SI ROSCIUS CAVERE POTUISSET, VIVERET = SE RÓSCIO TIVESSE PODIDO ACAUTELAR-SE CONTRA ESSAS INIMIZADES, AINDA VIVERIA

SI HANNIBAL POS CANNENSEM PUGNAM ROMAM PROFECTUS ESSET, CEPISSET URBEM = SE ANÍBAL, DEPOIS DA BATALHA DE CANAS, TIVESSE MARCHADO SOBRE ROMA, TE-LA-IA TOMADO

Paulo Barbosa

O VERBO INTEREST E SUA REGÊNCIA

INTEREST, interessa, importa, é construído com genitivo:

Matris interest = é do interesse da mãe

Magistri interest = é do interesse do mestre

Salutis communis interest = importa ao bem público

Interest praeceptoris diligentes et bonos esse discipulos = importa ao mestre que os discípulos sejam bons e inteligentes

Omnium nostrum interest = importa a todos nós

Utriusque nostrum interest = importa a nós ambos


Pode também ser construído no acusativo com ad quando se trata de coisa:

Ad laudem civitatis interest = importa à glória do estado

Paulo Barbosa

COMPARATIVO E SUPERLATIVO DE ADJETIVOS TERMINADOS EM -US PRECEDIDO DE VOGAL

Os adjetivos latinos terminados em -us precedido de vogal, como idoneus, exiguus, regius, perspicuus, adversarius, dubius, noxius, contrarius, exiguus, vacuus,  não possuem formas comparativas e superlativas sintéticas, isto é, não são formados com -ior/ius e -simus, a,um, -limus, a, um ou limus, a, um

O comparativo destes forma-se com a anteposição do advérbio magis = mais:

MAGIS IDONEUS = MAIS IDÔNEO

MAGIS NOXIUS = MAIS PREJUDICIAL

O superlativo forma-se com a anteposição do advérbio maxime = muito, o mais:

MAXIME IDONEUS = O MAIS IDÔNEO

MAXIME NOXIUS = O MAIS PREJUDICIAL

Paulo Barbosa

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"VERBUM IMPROMISCUM"

Para conhecermos bem o que seja VERBUM IMPROMISCUM, leiamos com bastante vagar e senso as orações abaixo:

"Hanc sibi rem praesidio sperant futurum" = "esperam que este fato lhes servirá de segurança" (Cícero, Verrinas).

"Credo ego inimicos meos hoc dicturum" = "eu creio que meus inimigos haverão de dizer isso" (Caio Graco, Sobre Públio Popílio).

"Dum i conciderentur, hostium copias ibi occupatas futurum" = "enquanto estes fossem cortados, as tropas dos inimigos haveriam de estar ali ocupadas" (Quadrigário, Anais).

"Si pro tua bonitate et nostra uoluntate tibi ualitudo subpetit, est quod speremus deos bonis bene facturum" = "se por tua bondade e pela nossa vontade a saúde se apresenta a ti, é nisso que esperaríamos virem os deuses a favorecer os bons" (Quadrigário, Anais).

"Si eae res divinae factae recteque perlitatae essent, haruspices dixerunt omnia ex setentia processurum esse" = "os harúspices disseram que se aquelas coisas divinas tivessem sido feitas e sacrificadas segundo as regras, tudo teria se processado segundo a sentença". (Valério Ântias, Anais).

"Etiamne habet Casina gladium? -

Habet, sed duos. - Quid duos? - Altero te

occisurum ait, altero uilicum" =

"Acaso tem Cásina espada? -

Tem, mas duas. - Por que duas? - Com uma ela diz

haver de matar a ti, com outra ao caseiro" (Plauto, Cásina).


"Non putaui hoc eam facturum" = "não pensei que ela irá fazer isto" (Labério, Gêmeos).


Todas as formas em -urum nestas orações, à primeira vista, parecem estar erradas:

"Futurum" de Cícero deveria, então, ser "futuram", concordando com 'rem';

"Dicturum" de Graco deveria ser "dicturos", por estar relacionado com inimicos: 'Inimicos dicturos' = 'os inimicos haverão de dizer';

"Futurum" do analista romano Quadrigário deveria concertar-se com 'occupatas", e portanto ser 'futuras";

"Facturum" do mesmo analista, deveria ser 'facturos', concordando com 'deos';

"Processurum" de Ântias deveria ser 'processura', forma neutra plural concordando com 'omnia';

"Occisurum" de Plauto deveria ser 'occisuram' para concordar com a jovem que vai matar;

"Facturum" de Labério, da mesma maneira, deveria ser 'facturam', concordando com 'eam', no feminino.

Entretanto, estas formas em -urum, segundo gramáticos e estudiosos antigos, não são empregadas como particípios futuros, que são declináveis, mas como formas verbais indefinidas, quer dizer, sem especificar número singular ou plural, nem pessoas, nem tempos e nem gêneros. É uma forma verbal libertada de todos os acidentes que sobrevêm ao verbo, portanto.

Esta forma verbal é denominada VERBUM IMPROMISCUM, que pode ser definida como sendo a forma verbal não promíscua, não misturada ou sem relação alguma com qualquer outra palavra da oração ou do texto.

É por ser não promíscua que permanece sempre a mesma forma, sem concerto ou concordância com qualquer palavra.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

INFINITIVO FINAL

O INFINITIVO LATINO após verbos de movimento é empregado com valor final em lugar do supino em -tum. Este emprego tem raízes muito antigas, pois a ideia de fim está associada à sua primitiva forma, já que comumente é admitida a interpretação de que se trata de um prístino locativo - amare - e de um dativo - amari. Bennet, em sua Syntax of Early Latin, ensina que a ideia de direção e de fim passou do dativo para o locativo. É, pois, digna de nota durante toda a antiguidade a ocorrência do infinitivo final, muito comum em Plauto, Terêncio, Horácio, assim como na Vetus, com verbos como eo, abeo, exeo, curro, mitto, venio, proficiscor, etc.:

"Eximus intus ludos visere" (Plauto, Casin., 855 e seg.).

"Omne cum Proteus pecus egit altos visere montes" (Horácio, Odes, I,2,7 e 8).

"Ascendit in montem solus orare" (Vetus - Mat., 14, 23).

Paulo Barbosa

PERFEITO FORTE E FRACO

O PERFEITO dos verbos latinos é denominado forte ou fraco. Forte, quando as desinências pessoais (i, isti, it, imus, istis, erunt) se ligam a um tema forte, e fraco, quando se ligam a um tema fraco.

Mas que é tema forte e fraco?

O TEMA do perfeito é FORTE:

1) quando é igual ao tema do presente. Assim: 

tema do presente: bib-o = eu bebo

tema do perfeito:  bib-i = eu bebi

2) quando se dá o alongamento da vogal do tema:

tema do presente: leg-o [o e é breve no tema do presente] = eu leio

tema do perfeito:  leg-i  [passando a longo no tema do perfeito] = eu li



tema do presente: fac-i-o [o a é breve no tema do presente] = eu faço

tema do perfeito:  fec-i [o a se transforma em e e este é longo no tema do perfeito] = eu fiz



tema do presente: ag-o [o a é breve no tema do presente] = eu conduzo

tema do perfeito:  eg-i [o a evolve para e e este e é longo no tema do perfeito] = eu conduzi


3) quando é formado com redobro, ou seja, com a anteposição ao tema verbal da consoante inicial:

tema do presente: d-o = eu ofereço

tema do perfeito:  de-d-i = eu ofereci



tema do presente: cad-o = eu caio

tema do perfeito:  ce-cid-i = eu caí



O TEMA do perfeito é FRACO:

1) quando se forma acrescentando -S ao tema verbal:

tema do presente: duc-

tema do perfeito:  ducS  - [cs em latim se transforma em X, dux-i = eu conduzi]


2) quando se forma com o acréscimo de -U ou -V:

tema do presente: mone [de moneo = eu advirto]

tema do perfeito:  monU [monui = eu adverti]



tema do presente: ama [de amo = eu amo]

tema do perfeito:  amaV [amavi = eu amei]


Paulo Barbosa

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

LÉXICO DO LATIM VULGAR

O léxico do Latim Vulgar apresenta muitos termos - substantivos, adjetivos, verbos - que ou não existiam no Latim Clássico ou eram raros, como os seguintes:

LATIM VULGAR                             LATIM CLÁSSICO                      

bellus                                                             pulcher      [belo]

coxa                                                              femur         [coxa]

ficatum                                                           iecur          [fígado]

grandis                                                           magnus      [grande]

capsa                                                             arca           [caixa]

casa                                                              domus         [casa]

gula                                                               fauces          [garganta]

siccus                                                            aridus           [seco]

spissus                                                          densus          [espesso]

titio                                                               torris             [tição]

grossus                                                         crassus          [grosso]

bisaccium                                                      sarcina          [pacote]

causa                                                            res                 [demanda]

venter                                                           alvus              [ventre]

corrigio                                                         lorum             [correia]

bucina                                                           tuba               [corneta]

filare                                                             nere                [fiar, tecer]

portare                                                         ferre                [transportar]

manducare                                                    edere              [comer]

vadere                                                           ire                  [ir]


Paulo Barbosa

terça-feira, 4 de outubro de 2011

EXERCÍCIO DA 2ª DECLINAÇÃO

Conforme combinado com os alunos de latim da UERJ, aqui algumas orações com nomes de tema e -o, ou seja, da 2ª declinação, para serem traduzidas:

Memoria clarorum virorum Graecis Romanisque grata erat.

Deus est dominus mundi.

Veri amici sunt thesaurus.

Populi nostri horti sunt altae.


Dê a tradução e o nominativo singular primitivo dos seguintes nomes:

armiger

gener

vesper

socer

ager

liber

aper

arbiter

Paulo Barbosa