quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O 'CORPUS ERNESTIANO', PRECIOSIDADE PARA O LATINISTA

ERNESTO FARIA, de quem já tratamos neste espaço (aqui: http://topicosdelatinidade.blogspot.com.br/2011/11/ernesto-faria-eximio-humanista-e.html) e de quem nunca é demais falar por ter sido um eminente latinista brasileiro e suas obras serem as mais categorizadas e científicas dentre tantas existentes e usadas nas nossas faculdades de letras latinas assim como no exterior, foi, mediante concurso, professor catedrático de Língua e Literatura Latina da então Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Vejamos aqui algumas das produções de maior vulto do digno e eminente Professor que muito escreveu nos legando um acervo preciosíssimo e obrigatório para todo estudioso de humanidades clássicas.

Em 1933, concorrendo à cátedra do Colégio Pedro II, produziu Ernesto Faria sua primeira obra, uma excelente tese, A Pronúncia do Latim. Por nesta época não existir no Brasil cursos superiores de letras (aliás, o primeiro curso de letras começou neste ano, de 1933, ofertado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, que mais tarde se tornaria a Pontifícia Universidade Católica, PUC-SP), tal tese não foi bem aceita por muitos especialistas que a desabonaram assim como a seu autor. Isso dificultou bastante o acesso de Ernesto até à cátedra, haja vista que não era um polemista, mas mais dedicado às leituras e pesquisas.

Apesar das incompreensões por que passou, continuou o exímio mestre a lutar para, após a criação no Brasil das cadeiras de Língua Latina nas Faculdades de Filosofia, extirpar a estagnação em que se encontrava o ensino do latim, e para tal trouxe para os estudos clássicos as contribuições e ensinamentos de um Niedermann, de um Ernout, um Marouzeau, grandes latinistas e humanistas europeus que já tinham suas doutrinas compendiadas.

Em 1934 sai a lume um pequeno livrinho no qual traçava a sua nova orientação, a Síntese de Gramática Latina, onde, logo no início deixou bem claro que fora "redigida para servir ao ensino moderno do Latim".

Em 1938 surge do prelo como antecessor da Fonética Histórica do Latim o Manual de Pronúncia do Latim, exposição e defesa teórico-prática da pronúncia clássica, científica, contra, portanto, as pronúncias tradicional e romana, que eram as propagadas em muitos cursos e até hoje o é em centros acadêmicos, tal como a Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro.

A mesma editora, Briguiet, em 1940, deu a lume uma série didática excelente, O Latim pelos Textos, onde há trechos latinos escolhidos dentre as mais abalizadas edições e de acordo com as exigências dos programas didáticos então em vigor. As anotações eram com base nas lições dos grandes mestres europeus, mas sempre obedecendo o nível das séries a que se destinavam. 

Em 1941 o excelente volume O Latim e a Cultura Contemporânea saiu a lume, onde se debatia a questão do Latim e as modernas diretrizes do ensino da língua latina. Foi dedicado a Marouzeau e destinado aos alunos das Faculdades de Filosofia de todo o Brasil, que então já eram numerosas.

1943 foi o ano em que no setor da lexicografia latina veio a lume o Vocabulário Latino-Português por família de palavras, uma verdadeira novidade nos meios acadêmicos da época.

Em 1945 aparece o Curso de Latim, uma gramática de textos e exercícios, pelo Companhia Editora Nacional, um prenúncio da futura e exitosa Gramática Superior da Língua Latina.

A Fonética Histórica do Latim viu a luz em 1955 (1.ª edição) e 1957 (2,ª edição), sendo uma obra de maturidade que completa em muitos pontos, e até atualiza, o clássico manual de Max Niedermann, Précis de Phonétique Historique Du Latin

Ainda em 1955 Ernesto publica o Dicionário Latino-Português, editado pelo Ministério da Educação e Cultura, sendo o melhor que há para o nível médio até nossos dias.

Em 1958 é editada a excelente e completa Gramática Superior da Língua Latina, obra de vulto e obrigatória para todos os cursos superiores de letras no Brasil e até no exterior e todas as bibliotecas latinas que se prezem, sendo um denso volume de mais de 500 páginas.

Em 1959 refunde e atualiza O Latim e a Cultura Contemporânea, mas agora com um outro título, Introdução à Didática do Latim.

Ernesto Faria foi sim um admirável e admirado mestre da cultura clássica, das humanidades e suas obras passaram a ter relevos e contornos definitivos sendo usadas nos cursos superiores de línguas como vade-mecums obrigatórios.

Paulo Barbosa

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