domingo, 9 de novembro de 2014

AS MUSAS

AS MUSAS na mitologia grega eram filhas de Mnemosine, a deusa da memória. Em Pieria, uma região a leste do Olimpo, e no monte Helicon, eram elas cultuadas, tendo aí suas sedes originárias e, por isso, seus epítetos eram Piérias e Helicônias.

Nove eram as musas, cada qual sendo protetora de uma diferente arte:

1. Calíope inspirava a poesia épica, tais como a Ilíada e Odisséia.

2. Clio dirigia as Histórias.

3. Euterpe conduzia a música para flauta.

4. Melpomene iluminava a produção da tragédia.

5. Terpsicore motivava a dança.

6. Erato orientava a música para lira.

7. Polímnia sugeria os cantos sacros.

8. Urania guiava a astronomia.

9. Talia ditava a comédia.

Paulo Barbosa

sábado, 8 de novembro de 2014

'CANDIDUS E ALBUS', ADJETIVOS DIFERENTES PARA DESIGNAR A COR BRANCA

A cor branca é aquela que reflete todos os raios luminosos não absorvendo nenhum em si mesma o que a faz aparecer com a máxima clareza.

O romanos, entretanto, diferenciavam duas tonalidades de branco usando para tal dois adjetivos diversos, candidus e albus.

CANDIDUS denota o branco resplandeceste e se opõe a niger, negro, escuro, sombrio. Exemplos: Lux candida = luz resplandescente; Candida luna = lua muito brilhante. Aliás, é deste adjetivo que provém candidatus, aquele que ao pleitear algum cargo público na Roma Antiga se vestia com uma túnica branca.

ALBUS designa o branco pálido opondo-se a ater, preto como o carvão, escuro. Geralmente é usado para adjetivar coisas naturais. Exemplos: album lac = leite branco; album aes = um tipo de metal com certa liga de chumbo. Deste adjetivo provém a palavra albinismo, um distúrbio congênito que torna a pele de quem o porta esbranquiçada.

Paulo Barbosa

AS CAMENAS ROMANAS

AS CAMENAS - CAMENAE - eram na antiga religião italiana ninfas das águas que possuíam o dom da profecia. Junto à porta Capena, em Roma, possuíam uma fonte sagrada que a elas foi dedicada pelo segundo rei romano, Numa Pompílio (753-673 a.C.). Era nesta fonte que as Vestais tiravam a água para seus rituais.

Lívio Andrônico (século III a.C.), identificou as Camenas com as Musas gregas.

Paulo Barbosa

'FARI', UM VERBO RARO E POÉTICO

FARI "FALAR" é um verbo latino defectivo raro e usado a maior parte das vezes na poesia. As formas mais empregadas são as seguintes:

1. Infinitivo presente: Fari (Horácio, Ode 4,6,18) e Farier (Vergílio, Eneida 11,242) = Falar

2. Indicativo presente: Fatur (Lucrécio 3, 464) = Ele fala

3. Futuro imperfeito: Fabor (Vergílio, Eneida 1,261) = Eu falarei

4. Presente do imperativo: Fare (Vergílio, Eneida 6,389) = Fala

5. Particípio presente: Fanti (Vergílio, Eneida 1,261) e Fantem (Propércio 3,5,19) = Para o que fala e o que fala.

Note que Fanti e Fantem estão declinados, o primeiro no dativo, o segundo no acusativo singular. O nominativo é Fans = o que  fala, o falante.

É do acusativo Fantem que é formada a palavra portuguesa Infante para designar a criança que ainda não fala. O vocábulo é formado pela partícula negativa 'in' mais 'fantem'. Lembre-se que o acusativo é o caso lexicogênico para a língua portuguesa, ou seja, é o caso que forneceu a maioria das palavras portuguesas.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

'TÓPICOS DE LATINIDADE' NO PORTAL MUNDUS LATINE



É com muito prazer que recebemos a notícia de que nosso blog TÓPICOS DE LATINIDADE está figurando no MUNDO LATINE, um portal que reúne os melhores materiais sobre a língua e cultura latina, como pode ser visto na descrição mesma da página:

http://munduslatine.weebly.com/


BEM-VINDO(A)! BENE VENISTI!


MUNDUS LATINE (o "Mundo em Latim") foi criado e arquitetado dentro do projeto de REUNIR e PRODUZIR materiais de mais alta qualidade sobre a língua latina para o público de língua portuguesa. O projeto é portanto o de cobrir um déficit de material on-line disponível para o estudioso brasileiro no aprendizado dessa língua. Para isso, buscaremos concentrar o que conhecemos de melhor na internet e nos livros sobre o tema LATIM.

Além disso, produziremos nós mesmos, de uma maneira inovativa e autêntica,
 e com a ajuda de uma equipe profissional nessa língua, novos materiais, que acreditamos complementar e suprir os já existentes, preenchendo assim lacunas e superando obstáculos que se apresentam aos estudiosos de latim.

O material que oferecemos busca portanto abranger o maior número possível de tópicos: material didático, como gramática, latim conversacional, vocabulário temático e história da língua; amostras de literatura clássica, medieval e eclesiástica, junto com uma lista temática de provérbios; mídias como músicas, vídeos e filmes; humor, com memes e imagens atuais da internet e das redes sociais; além de uma seção com links e encaminhamentos para outros sites, blogs e páginas no Facebook. O material será atualizado semanalmente, portanto esteja sempre nos acompanhando!

Esperamos que aproveitem e aprendam bastante com o MUNDUS LATINE, produzido e trabalhado com muito afeto pela língua e pelos estudantes dela, na esperança de reviver essa língua já considerada por muitos morta!

Divirtam-se! Delectamini!



Aqui http://munduslatine.weebly.com/links.html , na seção Blogs se encontra o TÓPICOS DE LATINIDADE, um espaço de cultura e língua latina, produzido com seriedade e pedagogia acessível e clara. É, portanto, com muita satisfação, pelo reconhecimento de nosso trabalho, que recebemos a notícia da inserção neste portal.


Miracema, 07 de novembro de 2014

Paulo Barbosa

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

ORAÇÕES SUBSTANTIVAS JUSTAPOSTAS

ORAÇÕES SUBSTANTIVAS JUSTAPOSTAS com o verbo no subjuntivo são aquelas que completam o sentido de um verbo ou do verbo da oração principal. Veremos aqui alguns exemplos com verbos que expressa volição (desejo), verbos de valor jussivo (que exprime ordem) e proibitivo.

1. Volo Laetitiam exhibeas = desejo que faça vir Letícia. A oração "Laetitiam exhibeas" é substantiva, pois completa o sentido da oração principal "volo"; tem o verbo no subjuntivo, "exhibeas"; e é justaposta à principal, ou seja, é ligada à principal sem nenhum conectivo. Note que no português não se dá a justaposição, mas a subordinada é introduzida pela conjunção 'que'. O verbo é volitivo, expressa desejo.

2. Jube in Miracemam veniat = ordena que venha à Miracema. "In Miracemam veniat" é oração substantiva, pois faz as vezes de um substantivo completando um verbo; seu verbo está no modo subjuntivo, "veniat"; a oração principal, "jube", tem o verbo no modo imperativo; o valor do verbo é jussivo, ou seja, expressa ordem, mando.

3. Nolo ames = não quero que ames. "Nolo" é a oração principal, o verbo possui valor proibitivo; "ames" é a oração substantiva; o verbo se encontra no modo subjuntivo.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

FRATRES ARVALES

Havia na Roma Antiga um colégio de doze sacerdotes conhecido como Fratres Arvales, Irmãos Arvais, que tinha por incumbência zelar pela observância da Amabarvalia, festividade anual que consistia em uma purificação solene dos campos efetuada pelos próprios lavradores com intuito de agradar aos deuses da agricultura.

Deste colégio conservou-se o texto de um Hino Arval - Carmen Arvale, um dos fragmentos mais antigos da literatura latina, composto entre os séculos  V ou IV a.C., de difícil compreensão, onde há invocação dos Lares e de Marte. - Os Lares eram os numina, ou seja, os espíritos cultuados nas encruzilhadas (Lares Compitales) ou incumbidos de proteger as casas e seus moradores (Lares Familiares) e Marte era, na antiga religião romana, o espírito da vegetação, o deus da agricultura, a quem os lavradores dirigiam os ritos de purificação dos campos na Ambarvalia. - Após ter sido extinto, foi restabelecido tal culto por ordem do Imperador Augusto.

O ritual arval era realizado a 8 km de Roma, num bosque existente ao logo da Via Campania, onde invocavam também a Dea Dia, uma deusa da terra e, em ocasiões solenes, ofereciam sacrifícios em favor da casa imperial.

A tradução do carme é a seguinte:

Ajudai-nos, Lares! Marmar, não deixeis a praga ou a ruína atacar o povo! Fica inteiramente satisfeito, feroz Marte, Salta a Soleira! Bate o chão, ó bravo! Por graça, visita a todos os deuses da semeadura! Ajudai-nos, Marmor! Triunfo! Triunfo! Triunfo! Triunfo! Triunfo!

Paulo Barbosa

terça-feira, 4 de novembro de 2014

DICIONÁRIOS LATINOS, QUAIS OS MELHORES?

Muitos me perguntam qual o melhor dicionário de latim e sempre respondo dentro do nosso circuito brasileiro ser o 

Dicionário Latino-Português do Saraiva,

seguido pelo

Dicionário Latim Português do Torrinha e o de Ernesto Faria.

Agora, os maiores e melhores dicionários da língua latina mundialmente reconhecidos são os seguintes:

1. Thesaurus Linguae Latinae, de Robert Estiene (Stephanus), o melhor dicionário produzido na Renascença, em 1532.

2. Dicionário Latim-Inglês, de Ainsworth, saído à lume em 1736.

3. Dicionário Latino, de Gesner, na verdade uma nova edição do Stephanus, mas renovado, de 1749.

4. Dicionário Latim-Italiano, de Forcelline, de 1771, que foi traduzido para o inglês em 1828 por Bailey.

5. Dicionário Latim-Alemão, de Scheller, saído em 1783-4 e traduzido para o inglês em 1835 por Riddle.

6. Dicionário Latim-Alemão, de Freund, traduzido para o inglês em 1852 por Andrews, revisto em inglês por White e Riddle, em 1852, e novamente revisto por Lewis e Short em 1879.

7. Dicionário Latim-Inglês, de Smith, 1855, que tomou por base os de Forcellini e Freund.

8, Thesaurus Linguae Latinae, é o maior dicionário de língua latina da atualidade, conhecido pela siga ThLL ou TLL, teve seu início no século XIX, mais precisamente em 1894, a cargo de vinte latinistas e mais outros especialistas de cinco universidades alemãs, e só será terminado em 2050. Abrange todos os vocábulos latinos desde o aparecimento do primeiro documento passando por toda a produção dos escritores clássicos seguindo Idade Média adentro até o ano 600 d.C. (Segue o link do Dicionário: http://www.thesaurus.badw-muenchen.de/).

Paulo Barbosa

A CAÇA A ANIMAIS FEROZES EM ROMA

A caça - venatio - a animais ferozes em Roma era um verdadeiro espetáculo público. A primeira menção a esta se encontra no ano 186 a.C. e com mais frequência durante todo o século I a.C. como parte de diversos jogos públicos. Em 99 a.C. houve a primeira exibição de elefantes capturados e em 93 Sula exibiu 100 leões.

As venationes - caças - foram mostradas por Pompeu, general romano, durante 5 dias, ocasião em que apareceram 500 leões e 18 elefantes. 

Muitos e divergentes eram os sentimentos entorno a esse espetáculo, alguns de compaixão pelo destino dos animais, enquanto outros de alegria. O próprio Cícero expressou repugnância em uma de suas cartas.

Ao chegar a época Imperial os expectadores romanos tornaram-se mais sedentos de sangue e cruéis, o que mais intensificou este tipo de espetáculo seguido de matanças no Circo. Durante o reinado de Augusto, por exemplo, foram mortos 3.500 elefantes, e 5000 animais selvagens e 4000 animais domesticados na inauguração do Coliseu. Os homens que lutavam com esses animais eram criminosos condenados ou prisioneiros de guerra ou mesmo contratado para esse fim.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"CENA TRIMALCHIONIS', UM ENREDO NECESSÁRIO AO LATINISTA

TRIMÁLQUIO (ou Trimalquião) era um novo-rico romano, muito sorridente, simples, bonachão e vulgar, que decide oferecer um banquete convidando vários aventureiros. O festim foi de uma ostentação opulenta, de mostras de riqueza imensa, com a decoração da casa indicando o poderio financeiro do anfitrião assim como a profusão de iguarias mais diversas ofertadas aos convivas. Todo esse luxo, porém, contrastava com os vários incidentes burlescos ocorridos durante a festa, com a conduta nada exemplar de Trimálquio, que ia se embebedando e escandalizando, com sua noção falseada de mitologia, supondo, por exemplo, que Aníbal estivesse presente à Guerra de Tróia, que Dáidalos tivesse retido Niobe no Cavalo de Tróia e que Cassandra matou os próprios filhos. Enquanto o banquete seguia, duas estórias foram narradas, uma de um lobisomem e outra sobre umas feiticeiras que transformaram um menino em um boneco de palha. E tudo isso contado pelo dono do banquete com muita vivacidade e graça contagiante.

Pois bem, essa historieta encantadora é narrada por Petrônio, que fora cônsul e governador da Bitínia, morto em 65 d.C., na sua obra 'Satiricon', escrita em prosa intercalada com versos onde descreve várias aventuras indecorosas, tais como a de dois trapaceiros - Encôlpio e Ascilto -, assim como estórias da famosa Matrona de Éfeso. O episódio mais destacado, entretanto, é o Banquete de Trimálquio - Cena Trimalchionis.

O interesse do estudioso da cultura e língua latinas nesta obra, mormente no festim, é que aí são oferecidos uma verdadeira descrição da vida italiana na época de Nero, que reinou até 68 d.C., como também reprodução das conversas e das gírias comuns de alguns dos convidados com suas maneiras reais de falar das classes mais baixas, fornecendo, assim, bom material para o estudo do latim vulgar. Por exemplo, para se dizer 'há séculos', usavam 'olim oliorum', numa verdadeira transgressão dos cânones gramaticais.

Paulo Barbosa

JÚLIO CÉSAR, O CRIADOR DO PARTICÍPIO PRESENTE DE 'ESSE'

O verbo 'esse, ser' nunca possuiu no latim clássico particípio presente como os demais, por exemplo, 'amare', que tem 'amans', porém, Júlio César (100-44 a.C.), Imperador Romano e ilustre conquistador das Gálias, sentindo necessidade de traduzir o particípio presente grego 'on' (do verbo 'einai'), inventou 'ens' como particípio do verbo 'esse', como relata Prisciano, famoso gramático em Constantinopla na época do Imperador Anastásios, no século V.

O primeiro registro do uso deste particípio, entretanto, é encontrado em Mário Vitorino, um pai da Igreja do século IV, indicando 'ens', no gênero neutro, como tradução do 'on' grego, compreendido, porém, no sentido estóico, ou seja, como um gênero principal acima de todas as coisas.

Com Boécio, e a partir dele, no século VI d.C., tal particípio passou a ter uso abundante na filosofia, designando tudo aquilo que existe, tudo o que possui o ser.

Paulo Barbosa

domingo, 2 de novembro de 2014

NÉVIO, UM POETA ARCAICO

GAIO NÉVIO foi um poeta romano do período arcaico, nascido mais ou menos em 270 e morto em 199 a.C.. Era plebeu, autor de tragédias, comédias e um poema épico. Sempre se levantando contra a aristocracia, criticava-a em seus versos, o que lhe rendeu uma prisão, conseguindo ser liberto graças à intervenção de alguns amigos tribunos. 

Numa de suas produções, Névio, usando de ambiguidade, critica uma família nobre, a dos Metelos, com o seguinte verso:


"Fato Metelli Romae, fiunt consules"

"É o destino de Roma que os Metelos sejam eleitos cônsules"

ao que Metelo, cônsul em 206, replicou também com um verso ambíguo:


"Dabunt malum Metelli Naevio poetae"

"Os Metellos darão o castigo ao poeta Névio"

o que realmente aconteceu com a sua prisão e, em seguida, por volta de 204, com a expulsão de Roma para Útica, onde faleceu.

Conta-se que o próprio confeccionou o epitáfio que deveria figurar em sua tumba com os seguintes dizeres:

"Imortalis mortalis si foret fas fieri,

flerent divae Camenae Naeviom poetam:

itaque postquam est Orci traditus thesauro

oblitei sunt Romai loquier lingua latina",


"Se fosse permitido os imortais se fariam mortais,

chorem as divinas musas o poeta Névio:

pois depois de entregue o tesouro ao Orco

Os romanos se esquecerão de falar a língua latina"


Paulo Barbosa