quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A ARTE DA ESCRITA EM ROMA

Após a criança Romana conseguir ler com acerto, era iniciada na arte da escrita, encontrando então novas dificuldades em agrupar as letras em sílabas e estas em palavras, pois encontrava na aprendizagem da escrita os mesmos processos irracionais e retardatários adotados pela maioria dos mestres da época.

Algumas vezes, as letras eram modeladas em cera, outras vezes esculpidas em madeira. 

Quando começava a escrever propriamente, como o aluno não tivesse recebido anteriormente instruções sobre a maneira de manejar o estilete, sobre a posição da mão e a postura do corpo, tinha o mestre necessidade de tomar sua mão para ajudá-lo a seguir os contornos do modelo.

Deste processo resultava serem necessárias muitas aulas até que o aluno obtivesse a habilidade suficiente de, por si mesmo, executar a cópia das letras, conforme testemunha Sêneca nas suas Epistolae: "Pueri ad praescriptum discunt: digiti illorum tenentur, et aliena manu per litterarum simulacra ducuntur; deinde imitari iubentur proposita, et ad illa refomare chirographum".

Depois que haviam aprendido a reproduzir todas as letras do alfabeto,eram os discípulos obrigados a fazer repetidas cópias de máximas úteis, provérbios e sentenças que eram, em seguida, memorizados.

O exercício da memorização tinha, com efeito, grande importância na educação romana, na qual se aproveitavam os romanos inteligentemente da notável capacidade de retenção da memória infantil para confiar a esta um série de elementos indispensáveis à formação do que eles chamavam a "virilitas romana", que nada mais era senão a elaboração consciente da personalidade cívica e moral da futuro cidadão.

Acerca da escrita é interessante trazer aqui algumas normas, exaradas pelo grande Quintiliano em suas Institutiones Oratoriae, que no tempo eram aconselhadas ao professor primário, ao alfabetizador:

"O escrever com velocidade e bem é coisa digna de atenção, ainda que comumente seja desprezada por pessoas de posição";
"O principal exercício de gente de letras é escrever, mas se a pena anda lerda, serve de estorvo à imaginação, e se a letra é imperfeita e de má conformação, torna-se ilegível, sendo então preciso ditar-se o que tiver de ser copiado por outrem";
"Quando o menino começa a escrever, não perca tempo em copiar palavras vulgares e que ocorrem diariamente, mas, ao contrário, deverá copiar palavras raras e difíceis, para ir ao mesmo tempo conhecendo seu significado e aplicação";
"Desejaria que os versos, que fossem dados para cópia, não contivessem sentenças inúteis, mas sempre algo de útil, porque a recordação deste perdurará até a velhice";
"Fixando tais ensinamentos em um espírito despreocupado de outras ideias, serão de grande proveito para a formação dos costumes";
"Podem também, a título de diversão, aprender as sentenças de homens ilustres e trechos escolhidos, principalmente dos poetas, coisas estas que agradam muito àquela idade";
 "Nesta idade em que o menino não pode inventar nada, o exercício da memória, pela maneira indicada, é o único meio que resta ao professor para desenvolver o engenho do aluno".
Com certeza, a técnica moderna de leitura e de escrita não se negaria a endossar muitas dessas normas aconselhadas há mais de vinte séculos por um dos grandes precursores da ciência pedagógica.

Paulo Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário