quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O APOSTO OU MODIFICADOR APOSITIVO DO NOME

APOSTO ou MODIFICADOR APOSITIVO DO NOME é um nome ou locução nominal que se junta a outro nome para melhor o caracterizar.

Deve-se notar que as gramáticas tradicionais não admitem que o aposto seja realizado por um adjetivo, entretanto, estudiosos mais recentes evidenciam a existência de aposto adjetival, como podemos recolher em Maria Helena Mira Mateus et al., na Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pp. 368-369.

NATUREZA DO APOSTO

Um modificador apositivo do nome pode ser:

1. UM GRUPO NOMINAL: Pero Vaz de Caminha, o Escrivão, elaborou o primeiro documento sobre o Brasil.

2. UM GRUPO ADJETIVAL: Henrique, inteligente e trabalhador, tem tido sorte na vida.

3. UM GRUPO PREPOSICIONAL: A dieta, de valor incontestável, tem o apoio da classe médica.

4. UMA ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RELATIVA EXPLICATIVA: Henrique, que é inteligente e trabalhador, tem tido sorte na vida.

VALORES FUNDAMENTAIS DO APOSTO

O aposto possui dois valores centrais, valores estes expostos por Evanildo Bechara em sua Moderna Gramática Portuguesa, e que são: Especificativo e Explicativo.

1. VALOR ESPECIFICATIVO é aquele quando um nome, muitas vezes nome próprio, complementa informação de outro ocorrendo em adjacência, sem qualquer tipo de separação diacrítica:


O rio AMAZONAS.

O palácio GUANABARA.


2. VALOR EXPLICATIVO é aquele que contém informação acrescentada ao nome ocorrendo sempre com separação diacrítica, ou seja, entre vírgulas. Este aposto veicula valores secundários dos quais se pode destacar os seguintes:


1º] VALOR ENUMERATIVO: quando a explicação consiste em um desdobramento enumerativo seguindo palavras como tudo, ninguém, nada, etc.:


TUDO - alegrias, preocupações, tristezas - ficava estampado em seu rosto.


2º] VALOR DISTRIBUTIVO: quando a explicação consiste em dividir um todo:


MACHADO DE ASSIS e GONÇALVES DIAS são meus escritores preferidos, aquele na prosa, este na poesia.


3º] VALOR CIRCUNSTANCIAL: quando a explicação exprime circunstância, ou seja, condição, acidente ou particularidade que acompanha um acontecimento, podendo, pois, expressar, por exemplo:


a) Valor comparativo


A ti, professor, compete ensinar

A ti, COMO professor, compete ensinar.


b) Valor temporal:


Collor de Mello, presidente da república, reduziu os impostos de importação =

Collor de Mello, QUANDO presidente da república, reduziu os impostos de importação.


c) Valor causal:


Mário, amigo, tirou Pedro da dificuldade =

Mário, PORQUE amigo, tirou Pedro da dificuldade.


Note que os apostos de valores circunstanciais podem ou não ser introduzidos por palavras indutoras de sentido, tais o como, o quando, o porque, etc.


RECAPITULANDO E ADITANDO

1 - Podemos definir de maneira mais abrangente o aposto como sendo um substantivo ou expressão equivalente que modifica um núcleo nominal ou pronominal ou palavra de natureza substantiva como 'ontem', 'hoje', 'amanhã'.

2 - Evanildo Bechara faz a seguinte distinção entre o aposto explicativo e especificativo: "Há diferença de conteúdo semântico entre uma construção do tipo 'O rio Amazonas' e 'Pedro II, imperador do Brasil'; na primeira, o substantivo que funciona como aposto se aplica diretamente ao nome núcleo e restringe seu conteúdo semântico de valor genérico, tal como faz um adjetivo, enquanto que na segunda a sua missão é tão-somente explicar o conceito do termo fundamental, razão pela qual é em geral marcada por pausa, indicada por vírgula ou por sinal equivalente (travessão e parêntese). Daí a aposição do primeiro tipo se chamar 'específica' ou 'especificativa', e a do segundo, 'explicativa'. (op. cit. 456-457).


O APOSTO NO LATIM

1) Em latim o aposto concorda em caso com o substantivo ou equivalente ao qual se junta para caracterizar:

Caecilia,   poetae   filia,   in schola est
Nominativo                                     Nominativo                                     

Cecília, filha do poeta, está na escola



Jesus, hominum servator, Dei est filius
                                                Nominativo                                Nominativo                                     


Jesus, salvador dos homens, é filho de Deus




Jesum,   hominum servatorem,   adoro
                                                     Acusativo                                                    Acusativo


Adoro Jesus, salvador dos homens

2) A concordância casual não é seguida obrigatoriamente pela concordância genérica e numérica:

Et Tulliola, deliciae nostrae
                                                                               Nom. sing.                    Nom. plural

E Tuliazinha, nossos agrados (Cícero, Ad Att.,I,8,3)




Deliciae meae   Dicearchus   contra hanc immortalilatem disseruit
             Nom. plural feminino            Nom. sing. masculino


Dicearco, minha delícia, falou contra esta imortalidade (Cícero, tu 1,21.77)



Nota: A expressão 'deliciae meae' ou 'deliciolae nostrae' em Cícero, usada como aposto, pode ser também traduzida como 'meu bem, meu amor, meu encanto'.


3) O aposto conserva o caso do substantivo por ele modificado mesmo quando está unido ao mesmo por meio da locução explicativa id est / hoc est (isto é) ou das conjunções ceu, quasi, ut, tamquam, velut (como) e de dico, inquam (digo):

Assentior Cnaeo Pompeio, id est Tito Pomponio

Eu concordo com Cneu Pompeu, isto é, com Tito Pompônio


Omni et gratia et opibus Caesaris sic fruor, ut meis

Valho-me de toda influência e de todos os recursos de César, como se fossem meus.


Catilina facinorum circum se, tamquam stipatorum, catervas habebat

Catilina tinha ao redor de si bandos de criminosos à maneira de satélites.


Hae perturbationes, aegritudinem dico et metum

Estas paixões, isto é / digo, a tristeza e o medo


4) São apostos os substantivos cidade, ilha, província, cadeia de montes, quando estão unidos a um nome próprio mediante a preposição de:


Os troianos fundaram a cidade de Roma

Urbem Romam condidere Troiani



A província da Gália

Gallia provincia



A ilha de Delos

Insula Delos



A cadeia do Jura

Mons Iura

Nota: Para não se confundir esses apostos com o adjunto restritivo - que vai no caso genitivo - deve-se analisar a possibilidade de substituir a preposição de pela circunlocução 'que se chama'. Caso seja possível, estamos diante de aposto e não de adjunto adnominal restritivo. 

Os troianos fundaram a cidade de Roma =

Os troianos fundaram a cidade QUE SE CHAMA Roma.


A província da Gália =

A província QUE SE CHAMA Gália.

Já nos seguintes exemplos:

Os reis de Roma

Os homens da Gália

não é possível a substituição da preposição de pela circunlocução 'que se chama', logo, nestes casos, as palavras 'Roma' e 'Gália' não são apostos, mas adjuntos adnominais restritivos e vão para o caso genitivo.

Paulo Barbosa

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